A data era 25 de outubro de 1983, quando Ayrton Senna estava no autódromo de Silverstone, realizando testes com a equipe McLaren de olho em uma possível vaga para a temporada seguinte na Fórmula 1.

Além dele, também estavam no circuito o inglês Martin Vrandel e o belga Stefan Beloff. Entre todos, Senna foi o mais rápido, causando excelente impressão na equipe e, em especial, Ron Dennis – ex-chefe da equipe.

Contudo, o tempo de Senna ainda era mais lento do que o de outro piloto. Tommy Byrne havia testado a McLaren naquele mesmo circuito, tendo sido o mais rápido de todos. O apelido de “novo Senna” não era à toa.

 

A incrível história de Tommy Byrne, o novo Ayrton Senna

Alguns acreditam que Byrne era uma lenda que acabou não florescendo. O piloto teve uma história muito conturbada no mundo do automobilismo.

Nascido em 1958, dentro de um carro no momento em que ia para um hospital da cidade de Dundalk, na Irlanda, o jovem se tornou ajudante de um pedreiro que corria com um pequeno carro em rallys de estrada.

No entanto, após sofrer um grave acidente, Byrnie decidiu mudar de ares. E, depois de treinos no Racing Driver’s Code Modelo, o piloto iniciou no automobilismo.

Mas sua carreira começou para valer com o carro da Fórmula Ford, quando o irlandês tinha apenas 19 anos, mas com um estilo que chamou a atenção.

Tommy Byrne como substituto de Ayrton Senna

Depois de brilhar na Fórmula Ford, o irlandês se mudou para a FF 2000, onde acabou conquistando tanto o título britânico quanto europeu.

No FF Festival o piloto substituiu ninguém menos que Ayrton Senna e venceu a corrida. Após a passagem pela Fórmula 2, Byrne se mudou para a F3 britânica.

No novo desafio, enfrentou adversários como Martin Brownell e o brasileiro Roberto “Pupu” Moreno, vencendo sete provas e se consagrando campeão.

O título de pilotos foi vencido mesmo sem correr em três corridas e o motivo da ausência era especial, já que Byrne havia conseguido uma vaga na equipe Theodore da F1.

No dia 8 de agosto de 1982, Bernie disputou seu primeiro GP na Alemanha, mas o sonho não seguiu como ele desejava.

Em algumas oportunidades, incluindo no país alemão, o piloto não conseguiu se classificar e, em outros dois GPs, da Áustria e Las Vegas, não conseguiu terminar (quebrou).

Tommy Byrne
Tommy Byrne correndo pela Theodore na Fórmula 1 – Reprodução

Carreira na Fórmula 3 e teste na McLaren

Mesmo tendo desempenhos ruins, sua carreira na F3 chamava bastante atenção dos olheiros, até que uma vaga de piloto de teste foi oferecida a ele pela McLaren.

A proposta era bastante tentadora, mas, apesar de ser considerado o “novo Senna”, Tommy Byrne recusou o pedido, justamente para dar espaço para suas corridas.

O seu comportamento no time surpreendia os outros pilotos do paddock, uma vez que preferia ele mesmo trabalhar no seu carro, ao contrário dos outros pilotos, que contavam com mecânicos.

Quando o título da Fórmula 3 chegou depois de muito suor, um dos prêmios era um teste com a McLaren. Dessa vez, o piloto não desperdiçou a oportunidade e o fez.

Em Silverstone, Byrne estava junto de outros quatro pilotos. Thierry Budsen, Stephan Johansson, Henrique Mancia e Dave Scott também estavam presentes para serem testados.

Temperamento complicado de Tommy Byrne

Visando deixar a concorrência para trás, o piloto voou e fez o terceiro melhor tempo solo já registrado no circuito. Mas nem mesmo isso foi suficiente para conseguir a vaga na escuderia.

Revoltado, há quem diga que na época o piloto se referiu ao carro como “um pedaço de merda”, história que foi negada pelo próprio piloto.

Além disso, sabe-se que a equipe fez uma entrevista com o piloto, que não conhecia os termos técnicos para desenvolvimento do carro. As respostas do piloto acabaram com suas chances na McLaren.

Depois do ocorrido, o piloto disputou o campeonato europeu de Fórmula 3 na equipe de Eddie Jordan, onde venceu duas provas, terminando em 4º no campeonato.

No ano seguinte, mudou de equipe mais uma vez, indo para a Anson, terminando o campeonato em 6º com o Alfa Romeo.

Tommy Byrne
Tommy Byrne era considerado um dos melhores – Reprodução

Aventura do novo Senna na América

Após a Fórmula 3, o atleta decidiu cruzar o oceano e disputar a Indy Lights, que era conhecida na época como American Racing Series.

Na categoria, terminou em 7º em 1986, foi o 3º em 1987 e foi vice-campeão em 1988, por apenas 3 pontos de diferença.

No ano seguinte, Tommy Byrne foi novamente o vice-campeão, desempenhando o que não se repetiu nem em 89, nem nas temporadas seguintes.

Em 1992, Tommy decidiu correr no México, se envolvendo com pessoas de caráter bastante duvidoso. Após a Fórmula 3 mexicana, o piloto decidiu se afastar do esporte e tirar um período sabático.

O retorno de Tommy Byrne ao automobilismo

Em 2001, voltou ao cockpit de um carro para disputar a série Grand American World Racing.

Em sua primeira tentativa, o “novo Senna” terminou o campeonato em 13º e, no ano seguinte, em 2002, a performance foi muito melhor, terminando em 3º lugar seu último campeonato da carreira.

Indo para a Flórida, o piloto se tornou instrutor de corrida, ensinando lições de direção defensiva para adolescentes e adultos.

Além das aulas de direção, Tommy Byrne também foi treinador de pilotos para a equipe Indy Lights e Brian Stewart Racing.

Tommy Byrne
O “novo Senna” se aposentou em 2002 – Reprodução/Irish Times

O legado de Tommy Byrne, que poderia ter sido o novo Senna

Em 2008, o piloto publicou o livro Crashed and Byrned: The Greatest Racing Driver You Never Saw, no qual conta as suas histórias e o rumo que sua carreira tomou. O livro ganhou o título de Livro do Ano do William Hill Irish Sports.

Byrne acabou famoso devido a descrições de pilotos, engenheiros e chefes de equipe da época que afirmavam veementemente que o piloto em seu ápice era o melhor de todos.

Antigo dono da equipe Jordan, da Fórmula 1, certa vez, disse: “Esqueça Ayrton Senna e Michael Schumacher, Tommy Byrne foi melhor que eles“.

Todo o sucesso de Byrne acabou se perdendo no tempo e seu estilo de vida acabou privando os fãs de ver aquele que poderia ter sido um o “novo Senna”, se tornando um dos melhores de todos os tempos. Se ele seria ou não, jamais saberemos a resposta.