Na última sexta-feira (14), foi realizado o segundo dia do CONAFUT 2024, um dos principais eventos sobre os bastidores e diversas outras questões a respeito do futebol brasileiro. Em meio a tantas personalidades influentes, esteve presente o árbitro Igor Benevenuto.

Convidado para participar do debate que discutiu “A Intolerância no Esporte: como fazer para virar esse jogo?”, o profissional foi voz influente no assunto, compartilhando as suas experiências na luta contra o preconceito e colaborando para a disseminação do assunto tão pertinente.

Assista à declaração de Igor Benevenuto ao Esportelândia

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A luta contra o preconceito

Curiosamente, Igor Benevenuto revela que odiava futebol quando era mais jovem e afirma que o preconceito começava desde então, pois era uma época em que não se podia dizer que não gostava do esporte, pois isso era considerado “coisa de menina”.

Eu comecei a participar de jogos na rua, campeonatos na escola e acabou que fui pegando amor pelo futebol. Com 17 anos eu resolvi fazer o curso de arbitragem.

Eu vivi, dos meus 17 até os 42, que foi no ano de 2022, sendo esse personagem. Não era o Igor de verdade” – contou o árbitro durante palestra no CONAFUT.

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Igor (no centro) deu início à carreira de árbitro em 1998 – Reprodução

Desde o momento em que decidiu entrar para o mundo do esporte, Igor Benevenuto diz que a sua vida virou de cabeça para baixo. Chegou até a tatuar um camaleão, animal símbolo da transformação, em seu braço.

Para cada situação da minha vida, em cada local que eu vivia, eu tinha que me camuflar. Eu tatuei um camaleão no meu braço, que representa muito isso, de ter que viver, se transformar em cada momento, em cada situação. Isso lembra muito a minha trajetória.

Em meio a diversos percalços dentro do universo do futebol, Igor teve de enfrentar uma série de dificuldades na carreira, inclusive com a família. Sua mãe, por sinal, não aceitou bem a informação a respeito da sua sexualidade.

Foi muito sofrido, uma trajetória sofrida. Tive depressão, tive problema com a minha mãe quando ela descobriu minha orientação sexual.

Não tive a convivência com o meu pai, só conheci ele em 2004, já com 25 anos de idade. Então foi bem conturbado. Aquilo sempre me magoou, machucou muito a minha vida.

Depois de tanto tempo se escondendo, Igor Benevenuto cansou e decidiu impor limites em relação a forma como queria seguir vivendo sua vida. Em 2022, o árbitro assumiu publicamente que é gay.

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Igor Benevenuto se assumiu gay publicamente em 2022 – Reprodução

Integrante do quadro de profissionais da FIFA, reconheceu que estava com medo de uma possível repercussão negativa e que algo pudesse afetar a sua carreira. Entretanto, revela que conseguiu construir uma rede de apoio ao conversar com sua família, colegas de trabalho e sua psicóloga.

Eu vivia a minha vida toda durante esses anos me escondendo porque eu tinha medo de perder. Porque isso era proibido, coibido. Você poderia ser, mas você não podia se posicionar, não podia se declarar. 

Então, assumi. Declarei minha orientação sexual para todos. Tirei uma tonelada das minhas costas, um peso muito grande da minha vida, que levei por 42 anos.

A importância de debater o assunto

Logo após a sua participação no painel do CONAFUT 2024, Igor Benevenuto concedeu entrevista exclusiva ao Esportelândia, onde falou sobre a oportunidade de debater um assunto tão importante em um evento de tamanha visibilidade.

É um privilégio poder falar sobre a minha vida, falar sobre a intolerância que a gente vive, principalmente a questão do preconceito, a homofobia.

Eu sei que eu também posso dar uma pequena voz, e eu sei que falando um pouquinho a gente planta uma semente e vamos colher grandes frutos no futuro.

A estrada é longa ainda, mas é não desistir, ser resiliente, e sempre estar debatendo, palestrando, sempre tendo esse tema para que as pessoas comecem a conviver e vejam que é normal com todas as pessoas.

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Igor Benevenuto integra o quadro de árbitros da FIFA desde 2021 – Reprodução

No fim, o profissional ainda aproveitou o momento para mandar um recado a todas as pessoas que sonham em seguir o mesmo caminho da arbitragem que ele, mas que ainda temem pelo preconceito.

Enfrentem esse preconceito, sejam vocês mesmos e lutem pelos seus sonhos. Não desista pela sua orientação sexual. Hoje a gente tem mais tolerância dentro da arbitragem.

A gente sabe que existe algum tipo de preconceito, mas a gente vai vencer a barreira quando a gente correr atrás dos nossos sonhos e não desistir. Porque se a gente desiste, a gente dá força para essas pessoas. Não desista!

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